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10/06/2017

O desafio de inovar o ensino de instituições superiores em pequenas cidades

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A conquista pelo sonhado diploma está ligada a vários fatores como programas sociais e facilidade ao acesso de bolsa de ensino superior, mas outro fator tem sido fundamental para contribuir: criação de cursos superiores em pequenas cidades.

 

Se antes para fazer uma graduação era preciso sair de casa, viajar horas ou mesmo por questões financeiras, não cogitava-se fazer um curso oferecido apenas em horário integral, isso mudou. Hoje, instituições superiores oferecem cursos como medicina veterinária, odontologia e agronomia em horários noturnos, o que possibilita que o estudante possa trabalhar durante o dia e estudar à noite.  Enquanto outras pequenas instituições estão pertinho de casa, o que possibilita que a pessoa que sonha em fazer uma graduação possa iniciá-la. Porém, se o número  de instituições aumenta, a qualidade de ensino precisa ser atrativa e a missão é inovar no ensino, tarefa nem um pouco fácil.

 

Segundo dados mais recentes do Censo, nos últimos 15 anos, no Brasil, o número de cursos superiores  saltou de cerca de 12 mil  para mais de 32 mil cursos e as instituições públicas e privadas aumentaram de em 1,3 mil para 2,3 mil.

 

Cursando o nono semestre, a estudante de medicina veterinária, Sonara Alves, 32 anos, viu a oportunidade de realizar o sonho do diploma na instituição IDEAU, localizada em Getúlio Vargas -RS, que oferece o curso em horário noturno e fica cerca de 70 quilômetros de distância de sua casa.

 

"Desde pequena tinha o sonho de ser médica veterinária e com a possibilidade de estudar à noite é muito bom, pois o aluno consegue trabalhar durante o dia. Além de ser muito vantajosa a modalidade,  pois podemos morar no conforto de nossa casa, sem ter a necessidade de mudar-se para outra cidade, eu utilizo o transporte universitário para chegar até a faculdade, onde viajamos tranquilos, podemos ir descansando ou estudando durante o trajeto", diz Sonara.

 

Mas para oferecer essa novidade de transformar cursos tradicionalmente de horários integrais para noturnos ou diurnos precisa de uma metodologia nova. Segundo o diretor da IDEAU, Flávio Carlos Barro, a instituição  une a teoria com a prática desde o primeiro semestre através da metodologia Ativa.

 

"Uma necessidade regional e uma característica nossa são esses cursos noturnos e diurnos. O que  diferencia a nossa forma de ensinar é a metodologia de ensino - inclusive tem artigos científicos - com a implementação da Educação Ativa, que faz com que o aluno muitas vezes tenha a impressão de estar trabalhando menos, no entanto, ele estuda muito mais, porque o sistema de ensino está adequado a forma de aprendizagem, que é mais fácil para o ser humano. Nosso aluno tem tanto a  teoria quanto a prática. Os alunos aplicam aquele conhecimento que eles obtém em  sala de aula na prática, através de um projeto elaborado de forma consistente junto com o colegiado, e defendem no final em uma banca, desde o primeiro semestre, repetindo-se todos os semestres, até a sua formatura. A metodologia não é complexa, mas ela faz com que o aluno trabalhe a teoria e a prática, assim ele consegue verificar quando  vai precisar daquela teoria que ele está estudando. Isso sim faz com que ele tenha uma diferença significativa no processo de ensino aprendizagem, assim ele tem maior amor e motivação  para estudar", explica Flávio.

 

O diretor ainda destaca que junto com a metodologia de Educação Ativa é realizada um processo de análise de conhecimento dos estudantes.

 

"A aprendizagem significativa é verificar o que o aluno tem de conhecimento e construir mais conhecimento em cima do que ele já sabe. Automaticamente conseguir verificar o que o aluno aprendeu até o momento ele consegue melhorar o aprendizado dele, é nisso que está baseado o sistema de ensino da faculdade. Tem dado certo, tanto que  a faculdade está entre as melhores instituições do país, isso quem diz é o MEC - Ministério da Educação e os sistemas que avaliam", diz.

 

A região nordeste do Rio Grande do Sul também inova na ampliação de ofertas de cursos superiores. Outro exemplo, é a Faculdade e Escola de Tapejara -FAT, localizada na pequena cidade de Tapejara. Iniciou seus trabalhos com o curso superior em administração, no ano de 2009, hoje, são cinco cursos e o número de alunos soma a 150.

 

Para competir com as grandes instituições a inovação no ensino deve  estar presente. Segundo a diretora da FAT, Milena Berthier Bandeira, conquistar espaço e ganhar a confiança na qualidade de ensino ainda é o principal desafio dessas novas instituições.

 

"O desafio é conquistar a confiança dos alunos potenciais. Viemos de uma cultura de que para ter acesso à ensino superior de qualidade é necessário buscar em cidades maiores. Desconstruir isso é um desafio contínuo. A FAT procura inovar em suas práticas de ensino e valoriza o relacionamento próximo com o aluno. Quando comecei a trabalhar na FAT era em torno de 70 alunos, isso em 2012. Atualmente está em cerca de 150", conta Milena.

 

Quem sabia desse desafio desde 2001, quando a instituição IDEAU iniciou os trabalhos era o diretor Flávio, que lembra que procurou se inspirar em novas formas de ensino que deram certo pelo mundo.

 

"Para você entrar em um mercado de trabalho você tem que buscar o melhor, o sistema de ensino não tem melhorado, e se é para entrar no mercado e fazer a mesma coisa que todo mundo faz não tem um porquê. A missão é ter um ensino diferenciado, temos cursos de dois anos de existência que está entre os dez melhores do Brasil, então, temos que buscar quem está fazendo a diferença a nível de mundo, quem é realmente líder de  mercado. A gente precisa se inspirar nos melhores, se espelhar, aplicar e conseguir passar para o mercado de ensino superior",  avalia Flávio.

 

Ainda, Flávio, lembra que as novas tecnologias também estão entre os desafios para a educação.

 

"É um grande desafio fazer com que as pessoas da educação se abram para as inovações tecnológicas da realidade que temos hoje. Procuramos trabalhar todo dia, com formação continuada para os professores, funcionários e palestras para os estudantes que estão chegando. Sobre como funciona o mercado de trabalho, ter um diploma e saber como usar o conteúdo dessas formações, para que consigam ser bem sucedidos", destaca.

 

E sobre ser bem sucedido, quem deu um ponta pé inicial para ser uma empresária de sucesso foi a estudante de administração, Lidiane Kelli Favaretto, 26 anos, que está no 6º semestre do curso. Ela iniciou um novo empreendimento colocando em prática o aprendizado.

 

"Através do curso de administração, acabei iniciando um novo empreendimento com mais segurança, profissionalismo e pesquisa de mercado. Também escolhi porque era um curso que tinha na faculdade aqui de Tapejara, o que facilita muito, sem precisar de transporte, perto de casa onde consigo ir a pé mesmo. Com certeza, o fato da faculdade estar próxima facilita muito é muito mais prático, menos cansativo", diz Lidiane, que optou em cursar na FAT e aprova a ideia em poder se formar sem ter que viajar por horas.

 

E a qualidade no ensino também agrada a estudante, que ficou na 2ª colocação do Prêmio Belmiro Siqueira de Administração, na categoria nacional.

 

  "A qualidade do ensino não está ligada ao fato de ser uma faculdade local ou da região, o que vai determinar, é o fato de ter uma equipe docente preparada e disposta. Prefiro que seja local, assim facilita na aproximação dos professores, para conversar, trocar ideias e  obter incentivo", comenta Lidiane.

 

Para a futura administradora, Samara Panseira, 22 anos, a proximidade entre instituição e estudante foi um fato determinante para ela optar em realizar a graduação na cidade em que vive.

 

"Eu ganhei a bolsa de estudos do ProUni - Programa Universidade para Todos - em Passo Fundo e na mesma hora eu fui pedir se poderia transferir para Tapejara. O ensino é bom, você tem convívio com os professores, mais oportunidade de conhecimento por estar mais próxima, o que não aconteceria em cidades maiores. Aqui você consegue tirar as dúvidas e a qualidade de ensino é muito boa",  lembra a estudante da 6º semestre.

 

Se engana quem pensa que por a cidade ser pequena não é destaque nacional  em conhecimento. As acadêmicas Samara e Lidiane, representaram o Rio Grande do Sul a nível nacional e ficaram em 2º lugar no Prêmio Belmiro Siqueira de Administração, neste ano.

 

"O reconhecimento do prêmio é um orgulho em ter conseguido, porque ás vezes tem aquele preconceito de que em cidades menores o ensino não é bom, mas bem pelo contrário, o ensino é muito bom, além de você ter a proximidade com os professores, se torna um aprendizado mais fácil. Mas tudo depende também do empenho e se o  aluno vai se interessar", diz Samara.

 

Para finalizar o diretor da IDEAU, Flávio, lembra que a ideia de inovação da instituição também é uma forma de inclusão de alunos que não teriam condições de cursar em período integral.

 

 "É uma forma de inclusão de alunos que não teriam condições de estudar em horário integral. A realidade da nossa região, que não existe muitas opções de trabalho durante à noite, pode ser considerada uma oportunidade para conseguir cursar à noite e trabalhar durante o dia. Também o filho do agricultor que trabalha durante o dia consegue estudar à noite", finaliza Flávio.

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